domingo, 8 de agosto de 2010

Obra

Léo Godoy Otero  começou a escrever ainda bem jovem, o que o faz considerar seu livro “Gente de rancho” relativamente imaturo, ainda que sob forte inspiração regionalista, por ter sido o autor originário do Centro-Oeste rebento de família de fazendeiros.
De qualquer modo, os contos de “Gente do rancho” , fugindo ao folclórico e anedótico, são enfocados como  literatura até certo modo social, por transpor o trem de  vida sertanejo, do morador da periferia da cidade interiorana.
De outra parte, em carta para o autor, quando do lançamento de “O caminho das boiadas”, 1958, Rio,  escreve Guimarães Rosa: “O caminho das boiadas” será um real e barulhento sucesso, um triunfo que a critica consagrará (…). Não estou dizendo isso por cordial amabilidade, mas sim porque creio. Há um sinal, para mim sempre certo, é que nunca me esqueço de varias passagens do seu livro que me entusiasmam de memória:  o flagrante dos ciganos, o fabuloso estouro da boiada, vivo, veraz, autentico, captado desde o ponto gerador do torvelinho inicial, em sua espantosa dinâmica (…). Prepare-se para aparecer fortemente.
Pela reedição de “O caminho das boiadas”, 1984, diz Bernardo Elis: “em 1954, Pela Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, da Prefeitura de Goiânia, aparecia um livro de contos intitulados Gente de rancho, cujo autor era um goiano natural de Morrinhos, Léo Godoy Otero (…).” “Esses contos não passaram despercebidos perante a crítica nacional”.
Mereceram atenção de gente como Guimarães Rosas e Wilson Martins que quer dizer que se tinha pela frente coisa válida.
O autor, entretanto, não alimentava prevenções de demorar na ficção e, ligando-se ao cinema (Cia. Vera Cruz), praticamente ausentou-se de Goiás, onde passara, parte da sua vida, afora o tempo de enstudo em Uberaba e São Paulo”.
“Em São Paulo (capital), 4 anos depois publicou o segundo livro, “O caminho das boiadas”, agora incluindo uma narrativa longa, de quase 150 Pgs. tão bem recebida pela crítica se não melhor, quanto ao primeiro “
Caso não me falha a memória, sempre falhante, Assis Brasil observou que Léo Godoy Otero  utilizava-se de uma narrativa apoiada na oralidade, em que o coloquial goiano era incorporado como forma expressional literária. Mostrava isso um avanço do autor de Gente de rancho, pois à exceção de Guimarães Rosa, ao tempo, poucos escritores usavam semelhante técnica, prevalecendo o sistema de duas linguagens – o coloquial nos diálogos diretos e o erudito quando era o autor o narrador ( … ).”
A prosa de Léo Godoy Otero caracteriza-se pelo atropelamento: ele escreve como quem vai tirar o pai da forca, como quem contando alguma coisa premida pela urgência, às carreiras, entremeando com adjetivos, expressões, informações sublimares que surgem tumultuadas, de modo a conferir à narração um teor polifônico ou dialógico. Com semelhante técnica o autor quase alcança aquele ideal de certa corrente literária que pretende um discurso não linear, antes de idéias concomitantes ( … ).”
É curioso como o autor pode reunir tantas e tamanhas observações da vida e do espírito do caipira goiano, tudo (em ambos os livros), repassado de um tom de jocosidade, sem maldade ( … ).”
“Guimarães Rosa, em carta ao autor, fala do “fabuloso estouro da boiada”. Ora, tentar um estouro de boiada depois das páginas indefectíveis de Euclides da Cunha e Rui Barbosa deixa de ser temeridade para ser uma necessidade ¬ de reformular emoções e impressões.”

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