domingo, 8 de agosto de 2010

O caminho das boiadas

FOLHA DA MANHÃ – 21/08/1958 – São Paulo
“O caminho das boiadas”
O “back ground” (do livro) é constituído pela vasta região de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, em que se encontra a rota das boiadas, com ponto terminal em Barretos. É assim que Léo Godoy Otero provoca o elogio de Guimarães Rosa.
“O caminho das boiadas” é um livro de contos com grande profundidade regional.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS – 23/11/1958 – Rio de Janeiro
Encontro matinal – Eneida
Aqui estou para aplaudir, louvar, bendizer Léo Godoy Otero, que acaba de publicar na Livraria José Olympio Editora um belo livro de contos: “O caminho das boiadas”. “Sua boiada e seu chão se alongam fortes de realidade, ser e viver e alegra-me o modo original e feliz com que v. os põe em arte”, escreveu, em carta para o autor, o nosso grande, imenso, Guimarães Rosa.
Léo Godoy Otero é da família literária do autor de “Grande Sertão Veredas”. Nele também a linguagem do seu povo é mantida como na realidade, fluente, simples quando parece complicada, reflexo da própria vida ( … ).
“O caminho das boiadas” é um livro para fazer qualquer um de nós prisioneiro das descrições, dos cenários das fazendas, campos bravios, terras, boiadas, gritos de homens a cavalo, mulheres sem futuro ( … ).
Com esse livro, Léo Godoy Otero classifica-se entre os bons, os melhores contistas regionais.
ÚL TIMA HORA – 03/11/1958 – São Paulo
Livros – Ricardo Ramos
Anunciam-se para esses dias livros de Lygia Fagundes Telles e Hélio Pívora. Entre uns e outros é publicado “O caminho das boiadas” de Léo Godoy Otero, autor de bons, amplos recursos, o contista goiano está a vontade em diversas modalidades da história curta, sabe usar um diapasão vário. O anedótico, o descritivo, encontram-se na sua maneira de narrar uma forma plástica, a que não está ausente a pincelada lírica, a notação satírica, a comparação de imprevisto efeito ( … ).
O conto título afirma um escritor em pleno domínio dos seus temas. Com “O caminho das boiadas”, Léo Godoy Otero vem formar entre os nossos melhores contistas novos.
LEITURA nº. 17 – Rio de Janeiro, novembro, 1958
Adonias Filho
Léo Godoy Otero é um escritor que se tornou responsável por um dos livros mais importantes na fase atual da ficção brasileira. O poder descritivo em Léo Godoy Otero é quase um milagre ( … ).
Em certas passagens é tamanha a capacidade descritiva que visualizamos os quadros como se estivéssemos na cauda da manada e fossemos um dos peões a conduzi-Ia ( … ).
Na capacidade descritiva, em verdade, não creio que outro ficcionista contemporâneo supere Léo Godoy Otero. Não há em toda novela uma frase sem nervos ( … ).
Léo Godoy Otero manteve a sua novela na fronteira da obra prima.
22 DIÁLOGOS SOBRE O CONTO BRASILEIRO ATUAL
Livraria José Olympio Editora
Rio de Janeiro, 1973
( … ) Sendo Bernardo Elis, segundo o autor Gilberto Mendonça Teles, o maior contista patrício aparecido até agora, uma espécie de Guimarães Rosa goiano, que mereceu da crítica curiosos comentários, tecidos mais em torno de uma atualização expressiva.
A esse nome deve-se acrescentar o de Léo Godoy Otero, cujo amadurecimento de estilo já se pode aquilatar em “O caminho das boiadas”.
O POPULAR – Goiânia, 14/06/1986
Entrevista de Bernardo
Estudei profundamente a língua portuguesa e também a linguagem e a sociedade caipiras. Percebi que a linguagem, com o advento do rádio e da televisão, não teria como se tornar predominante, como pensava Monteiro Lobato. Percehi que tínhamos de buscar uma medida entre a linguagem do caipira e a norma culta do idioma. O livro de Léo Godoy Otero, “O caminho das boiadas” me influiu muito nisso. Basta ver que, hoje, todos nós somos inclinados a não flexionar os verbos.
FOLHA DE SÃO PAULO – 25/08/1983
A saga dos rodeios caboclos
F:rnani da Silva Bruno
(. .. ) Grande cronista literário da saga do peão de boiadeiro parece ser o escritor goiano Léo Godoy Otero que traçou, em “O caminho das boiadasii, o vasto painel dos rebanhos que, partindo de Morrinhos e passando pelas invernadas de Buriti Alegre, cruzam o Triângulo Mineiro e descem para os frigoríficos de são “Paulo.  Passando 25 anos da publicação de O caminho das boiadas, Léo Godoy Otero após exaustivo trabalho reescreve essa obra ampliando situações aprofundando-se, sobremaneira, nos hábitos e linguajar sertanejo.
SUBSIDIÁRIO
J. O. José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1988
Herberto Sales
Me apresentaram Léo Godoy Otero. Eu era seu admirador, um forte escritor de expressão regional na linha, digamos, de um Bernardo Elis e como Bernardo, goiano. Estava, contudo, radicado em São Paulo. Eu não sabia que ele – com sua autoridade de expert em ficção cientifica era um admirador entusiasta do meu romance ‘O fruto de vosso ventre”.
HISTÓRIA E LITERÁTURA
Departamento Estadual de Cultura Goiânia – 1968
Modesto Gomes
O livro mostra, em sucessivos quadros panorâmicos pedaços de nossa paisagem (. .. ). Léo Godoy Otero, para atingir os resultados a que chegou, teve ciência de que a terra, nestas plagas mediterrâneas, é imã que prende o indivíduo para, em processo concomitante, marca-Io duramente com o estigma de uma força (. .. ). Léo Godoy Otero não fugiu a esta atração telúrica, nem tão pouco deixou se dominar por ela. Fixou mesmo – e o fez vigorosamente – as próprias cambiantes ecológicas que influenciaram, inclusive, a sua formação humana e intelectual ( … ). Otero compõe páginas magistrais ( … ). O peão de boiadeiro, legendário tipo de nossa galeria sertaneja, vive de corpo inteiro na novela de Godoy Otero, com virtudes e defeitos encarados na figura delineada de Moreno Ponteiro, cujo romance com a cigana Maria enseja magníficos trechos do livro.
O POPULAR – Goiânia, 05/01/1984.
“’0 caminho das boiadas”, de Léo Godoy Otero, é uma das obras marcantes da literatura regionalista feita em Goiás, publicada pela primeira vez em 1958, pela Livraria José Olympio Editora. Essa obra literária não perdeu, até hoje, a sua importância ( … ).
Esse escritor goiano, radicado em São Paulo, não perdeu a verve e o vasto conhecimento do falar caipira goiano (… ).

ARGUMENTO/ RESUMO
DE
O CAMINHO DAS BOIADAS
DE
LÉO GODOY OTERO
Edição da Livraria José Olympio Editora- Rio de Janeiro, 1958.
ASSUNTO: Transporte de boiada de Goiás a Barretos, para o mercado de carnes de são Paulo.
Época: década dos anos 40.
Uma boiada composta de 1.500 cabeças de gado de corte, aí vacas velhas, bois erados, como ainda até garrotes, arranca da cidade de Morrinhos, Goiás, para Barretos, São Paulo.
Oito peões liderados por um chefe, o comissário da boiada, também dito capataz, aguardam nervosos o nascer do dia, a fim de partirem: esta a primeira marcha, assim chamado cada dia de viagem.
Na noite quente, a boiada berra praticamente a noite toda. Bois brigam, pois nervosos demais no início da viagem.
De madruga, os peões rodeiam, ajuntam a boiada. Aí almoçam arroz, feijão com carne seca e farinha, mais café, comida feita pelo cozinheiro da comitiva, o qual com os equipamentos de cozinha, com seu ajudante e duas mulas, vai para o próximo pouso, lá esperando o comboio. Isto se dará por 19 dias, numa caminhada de 3 léguas/dia, isto é, 18 km, até Barretos, prazo este nunca respeitado, pois contratempos ocorrem quase a viagem toda.
No avanço da boiada, caminhos difíceis, serras íngremes, estradas estreitas, bois caindo em abismos e morrendo.
Gado perdido, sumido, morto, tais perdas debitadas na conta do comissário, pois ele ganha por cabeça ilesa, além da munição de boca que é fornecida pelo dono do gado.
O herói da história é um peão de boiadeiro chamado Moreno Ponteiro que leva tal apelido por portar o berrante e ocupar a frente, a ponta da boiada.
A caminhada do gado é lenta, reses sempre perdendo peso não só pela viagem, como pela má qualidade dos pastos de aluguel encontrados pelo caminho no fim de cada marcha. Também gado desaparece, ás vezes, não mais encontrado, também furtado, aí chamado de arribada. Gado morre também por fraqueza ou picadura de cobra ou ainda ingerindo erva venenosa geralmente no Brasil central conhecida como timbó.
Á noite nos pousos, geralmente a peonagem canta ou até joga truco. Cada pião tem para seu uso dois cavalos fornecidos pelo dono da boiada.
Na viagem surgem cidades, enquanto a boiada estaciona nas periferias, em pastos alugados e ruins por uma noite, pousos já previamente designados, conhecedor do caminho pelo comissário.
Os peões que estão de folga vão para a cidade bagunçando os bordéis, dando tiros, brigando, sendo presos, agredidos pela policia local. No outro dia o comissário tira esses bêbados da cadeia, pagando fiança exorbitante, de novo para Barretos, avançando, bois bravos, chamados brabezas, tentando se esconderem em moitas de capoeira, existentes no percurso.
No fim de cada marcha um toque diferente, convencional do berrante, avisa a peonagem da culatra, isto é, da retaguarda e dos lados para estacionar a manada, totalmente, sem afobação. Nesse fim de marcha o comissário reconta, cuidadosamente, a totalidade do gado.
Chegando próximo à travessia de um grande rio, no caso o Paranaíba, limite de Goiás com Minas Gerais, a boiada inicia estouro:
O estradão boiadeiro apertava mais a cada braça. Uma cotovelada de arranque da capoeira atingiu a estrada. A ponta da manda estacou de súbito. Um estremecido estancou os sons. O frêmito do pavor cavalgou a boiada. Chifres em chifres estalando. Caudas se erguem. Orelhas hirtas. Os sons desesperados do berrante, entrecortados como o choro cobriram o arranque da boiada. Toda a tropa ágil da talha lateral, na ânsia do cavalo de boiada, irrequieto e azuado, cortou preciso o matraqueado do estouro vacilante. O estouro não progrediu, aviso à peonagem da possibilidade de tal vir a acontecer.
Daí para frente as marchas se sucederam normalmente, até Barretos onde o gado é entregue ao frigorífico comprador. Tudo anteriormente combinado entre a empresa e o dono da boiada.
ORGANIZAÇÃO DE UMA BOIADA
Há um chefe responsável pela boiada e pelos peões, contratado pelo dono dela. É ele o gerente geral, o caixa da comitiva, patrão ali, com autoridade de disciplinar peões que queiram desobedecer ou desrespeitar a chefia.
Uma boiada de 1.500 cabeças de boi exige no mínimo 8 peões, com muda de dois cavalos para cada um, fora as duas mulas de carga sob o controle do cozinheiro e seu ajudante.
Um peão geralmente se veste ou se vestia, com calça de algodão cru, camisa de riscado, guaiaca na cintura, um ou outro armado, faca pequena e calças de couro crus com penduricalhos. Todos geralmente fumam, portanto portam canivetes e isqueiros estes chamados bingas.

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