domingo, 8 de agosto de 2010

O retrato em sépia

O ESCRITOR – Dezembro, 2002
Caio Porfiro Carneiro
“O retrato em sépia”  ( … ) Uma particularidade de “O retrato em sépia”, no campo formal, é o viés incrível e notável do autor de transferir praticamente toda a história para o campo das falas, para os diálogos oportuníssimos, que se sucedem, quase sem solução de continuidade, dão força e colorido todo especial à criação, mas não se aproximam do teatro.
Esta novela, esta história de Indiana e seu desdobramento, é o tempo que foi e que está presente, e é o presente que busca compreende-Io ( … ).
E vemos perplexos como tudo mudou, e mudou demais em poucas décadas. O autor não faz comparações e não interfere no processo narrativo. Expõe e mostra, em andamento aparentemente calmo, uma calmaria cheia de surpresas e alçapões. A novela é um sopro ameno, enganosamente ameno, porque triste e doído e porque o tempo é voraz ( … ).
Se sai da leitura com aquele sentimento indefinível no coração, que só uma obra de arte pode alcançar; como tudo é vivido e precário no decorrer do tempo.

Introdução a ficção científica

FOLHA DE SÃO PAULO – 29/11/1987
Biblioteca Básica – Ficção científica
Introdução a uma história da ficção científica de Léo Godoy Otero. Lua Nova Editora, são Paulo  242 páginas.”
“Introdução a uma história da ficção científica” é um amplo levantamento dos precursores, definições e obras deste ramo da literatura. Inicialmente o autor analisa mitos. Apresenta autores gregos da Antigüidade e obras da Renascença determinantes na formação da ficção científica. Utilizando uma divisão cronológica elaborada por Isaac Asimov; a parte principal trata de cinco períodos. ( … ) Contém também capítulos específicos para autores brasileiros e russos e uma bibliografia, tanto de obras como de ensaios a respeito.
ANUÁRIO BRASILEIRO – Não ficção nacional
Gilberto Schoereder São Paulo, 1987 “Introdução a uma história da ficção científica”. Nos últimos anos tem-se intensificado o número de publicações dedicadas ao estudo da ficção científica no Brasil. Esta “história da ficção científica”, a mais recente, como as demais, ajuda os leitores interessados no gênero a compreende-Ia melhor.
( … ) Léo Godoy Otero é conhecido por sua imersão na literatura regional com seu romance “O caminho das boiadas”, que recebeu os maiores elogios do grande escritor Guimarães Rosa. Pode-se imaginar uma grande distância existente entre a literatura regional e a ficção científica, esta pesquisada exaustivamente por Otero, durante vinte anos de leitura. Mas para o autor a diferença transformou-se em semelhança. “Em ambos os gêneros (diz Otero)”, o leitor há que ser iniciado, é dizer familiarizado com a linguagem. Em ambos os regionalismos, o terráqueo e o espacial, predominam tipos e dialetos específicos.
Um destaque deve ser dado ao excelente levantamento realizado da ficção científica brasileira, tão pouco conhecida do público em geral e na qual se aventuraram grandes nomes da literatura nacional.

Summary of the The Cattle Trail by Léo Godoy Otero

This edition José Olympio Editora Rio de Janeiro 1958
Subject: A Cattle drive from Goiás to Barretos for the meat market in Sao Paulo
Epoch: Decade of the 1940s
A herd composed of 1,500 head of cattle, from old cows, mature cattle, tol yearlings started from the city of Morrinhos, Goiás for Barretos in Sao Paulo
Eight cowboys led by a foreman , the manager of the drive, also calledcapataz., anxiously waiting for the arrival of the day at the start of which they will leave:
this is the first stage, as each day of the trek is called.
Through the warm night the herd bellows practically all night long, cows fight, very unsettled at the start of the journey.
In the early morning, the cowboys round up, bringing the herd together. From then eating rice and beans with jerked /dried beef and manioc flour, plus coffee, such food prepared by the cook of the cortege. With his assistant and 2 mules, he goes to the next camp , and there, waits for the drove. That´ll be the way for 19 days, each day a journey of 3 `legs´, that is, 18 kms , until they reach Barretos. This time period is never enough, because setbacks happen almost the whole trip.
With the advance of the herd; difficult stretches, steep mountain ridges, narrow roads, cows falling into abysses and dying.
Lost cattle, disappeared, dead. Those lost are deducted from the the foreman´s salary, because he earns per head of un-injured cattle. In addition the feed which is supplied by the cattle owner.
The hero of the story is a cowboy called Moreno Ponteiro who gets the nickname because of leading the howling herd and taking the front, the head of the drove.
The way of the cattle is slow, with cattle always losing weight not only from the journey but also the poor quality of rented pasture on route, at the end of every day. Also cattle disappear, at times, no longer seen, also stolen, here called disappeared (arribada). Cattle also die from weakness or snakebite or even ingesting poisonous plants usually known in Brazil as timbó
At night at the camp, usually the cowboys sing or play cards(truco) Each cowboy has the use of two horses provided by the owner of the herd. On the way, villages come up, while the herd stay on the outskirts in poor rented pastures for a night, such rests already known and planned by the foreman
The cowboys on time-off go to the town, messing around in the brothels , shooting, fighting, getting locked up, getting roughed up by the local police. The next day the foreman takes these drunks out of jail paying exorbitant bail. Again on the route for Barrretos, advancing, aggressive cows called wild (brabezes) trying to hide themselves in the bush on the way.
At the end of every stage a different sound common for the herd, advising, the cowboys at the back of the herd i.e. the rearguard, and the sides, to stop the herd calmly, without any agitation . At the end of each stage the foreman carefully counts, all the cattle.
Getting near the big river crossing, e.g. , Paranaíba on the frontier of Goias with Minas Gerais, the herd starts to stampede:
The way narrows on both sides. . One elbow of bush reaches the road, . The head of the herd stops suddenly. The cattle become quiet. A tremor of fear passes over the herd. Horns cracking. Rear ends rising .ears upright. The startled sounds of the horn like a cry, envelop the start of the herd All the horses, agile on the sides, the anxiety of the herd, horses restless and troubled, cut with clattering hooves the vacillating stampede. The stampede doesn´t continue, advising the cowboys of the possibility of such an occurrence to happen
From there on, the stages proceed normally until Barretos, where the cattle are delivered to the buyers abattoir. All previously arranged between the business and the owner of the herd Organization of the herd
There´s a boss responsible for the herd and the cowboys, contracted by the owner. He´s the general manger, the banker of the company, the boss of everything, with the authority to discipline cowboys who disobey or disrespectthe leadership.
A herd of 1,500 cattle has a minimum of 8 cowboys, with a change of two horses for each one, apart from 2 pack miules under the control of the cook and his assistant.
A cowboy generally dressed himself in rough cotton pants, striped shirt, a holster belt. one or other with a gun. Also a small knife and rough leather pants with decorations down the sides. All generally smoke, therefore they carry pocket knives and lighters, which are called bingas.
This version done by Bernard Naughton

O caminho das boiadas

FOLHA DA MANHÃ – 21/08/1958 – São Paulo
“O caminho das boiadas”
O “back ground” (do livro) é constituído pela vasta região de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, em que se encontra a rota das boiadas, com ponto terminal em Barretos. É assim que Léo Godoy Otero provoca o elogio de Guimarães Rosa.
“O caminho das boiadas” é um livro de contos com grande profundidade regional.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS – 23/11/1958 – Rio de Janeiro
Encontro matinal – Eneida
Aqui estou para aplaudir, louvar, bendizer Léo Godoy Otero, que acaba de publicar na Livraria José Olympio Editora um belo livro de contos: “O caminho das boiadas”. “Sua boiada e seu chão se alongam fortes de realidade, ser e viver e alegra-me o modo original e feliz com que v. os põe em arte”, escreveu, em carta para o autor, o nosso grande, imenso, Guimarães Rosa.
Léo Godoy Otero é da família literária do autor de “Grande Sertão Veredas”. Nele também a linguagem do seu povo é mantida como na realidade, fluente, simples quando parece complicada, reflexo da própria vida ( … ).
“O caminho das boiadas” é um livro para fazer qualquer um de nós prisioneiro das descrições, dos cenários das fazendas, campos bravios, terras, boiadas, gritos de homens a cavalo, mulheres sem futuro ( … ).
Com esse livro, Léo Godoy Otero classifica-se entre os bons, os melhores contistas regionais.
ÚL TIMA HORA – 03/11/1958 – São Paulo
Livros – Ricardo Ramos
Anunciam-se para esses dias livros de Lygia Fagundes Telles e Hélio Pívora. Entre uns e outros é publicado “O caminho das boiadas” de Léo Godoy Otero, autor de bons, amplos recursos, o contista goiano está a vontade em diversas modalidades da história curta, sabe usar um diapasão vário. O anedótico, o descritivo, encontram-se na sua maneira de narrar uma forma plástica, a que não está ausente a pincelada lírica, a notação satírica, a comparação de imprevisto efeito ( … ).
O conto título afirma um escritor em pleno domínio dos seus temas. Com “O caminho das boiadas”, Léo Godoy Otero vem formar entre os nossos melhores contistas novos.
LEITURA nº. 17 – Rio de Janeiro, novembro, 1958
Adonias Filho
Léo Godoy Otero é um escritor que se tornou responsável por um dos livros mais importantes na fase atual da ficção brasileira. O poder descritivo em Léo Godoy Otero é quase um milagre ( … ).
Em certas passagens é tamanha a capacidade descritiva que visualizamos os quadros como se estivéssemos na cauda da manada e fossemos um dos peões a conduzi-Ia ( … ).
Na capacidade descritiva, em verdade, não creio que outro ficcionista contemporâneo supere Léo Godoy Otero. Não há em toda novela uma frase sem nervos ( … ).
Léo Godoy Otero manteve a sua novela na fronteira da obra prima.
22 DIÁLOGOS SOBRE O CONTO BRASILEIRO ATUAL
Livraria José Olympio Editora
Rio de Janeiro, 1973
( … ) Sendo Bernardo Elis, segundo o autor Gilberto Mendonça Teles, o maior contista patrício aparecido até agora, uma espécie de Guimarães Rosa goiano, que mereceu da crítica curiosos comentários, tecidos mais em torno de uma atualização expressiva.
A esse nome deve-se acrescentar o de Léo Godoy Otero, cujo amadurecimento de estilo já se pode aquilatar em “O caminho das boiadas”.
O POPULAR – Goiânia, 14/06/1986
Entrevista de Bernardo
Estudei profundamente a língua portuguesa e também a linguagem e a sociedade caipiras. Percebi que a linguagem, com o advento do rádio e da televisão, não teria como se tornar predominante, como pensava Monteiro Lobato. Percehi que tínhamos de buscar uma medida entre a linguagem do caipira e a norma culta do idioma. O livro de Léo Godoy Otero, “O caminho das boiadas” me influiu muito nisso. Basta ver que, hoje, todos nós somos inclinados a não flexionar os verbos.
FOLHA DE SÃO PAULO – 25/08/1983
A saga dos rodeios caboclos
F:rnani da Silva Bruno
(. .. ) Grande cronista literário da saga do peão de boiadeiro parece ser o escritor goiano Léo Godoy Otero que traçou, em “O caminho das boiadasii, o vasto painel dos rebanhos que, partindo de Morrinhos e passando pelas invernadas de Buriti Alegre, cruzam o Triângulo Mineiro e descem para os frigoríficos de são “Paulo.  Passando 25 anos da publicação de O caminho das boiadas, Léo Godoy Otero após exaustivo trabalho reescreve essa obra ampliando situações aprofundando-se, sobremaneira, nos hábitos e linguajar sertanejo.
SUBSIDIÁRIO
J. O. José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1988
Herberto Sales
Me apresentaram Léo Godoy Otero. Eu era seu admirador, um forte escritor de expressão regional na linha, digamos, de um Bernardo Elis e como Bernardo, goiano. Estava, contudo, radicado em São Paulo. Eu não sabia que ele – com sua autoridade de expert em ficção cientifica era um admirador entusiasta do meu romance ‘O fruto de vosso ventre”.
HISTÓRIA E LITERÁTURA
Departamento Estadual de Cultura Goiânia – 1968
Modesto Gomes
O livro mostra, em sucessivos quadros panorâmicos pedaços de nossa paisagem (. .. ). Léo Godoy Otero, para atingir os resultados a que chegou, teve ciência de que a terra, nestas plagas mediterrâneas, é imã que prende o indivíduo para, em processo concomitante, marca-Io duramente com o estigma de uma força (. .. ). Léo Godoy Otero não fugiu a esta atração telúrica, nem tão pouco deixou se dominar por ela. Fixou mesmo – e o fez vigorosamente – as próprias cambiantes ecológicas que influenciaram, inclusive, a sua formação humana e intelectual ( … ). Otero compõe páginas magistrais ( … ). O peão de boiadeiro, legendário tipo de nossa galeria sertaneja, vive de corpo inteiro na novela de Godoy Otero, com virtudes e defeitos encarados na figura delineada de Moreno Ponteiro, cujo romance com a cigana Maria enseja magníficos trechos do livro.
O POPULAR – Goiânia, 05/01/1984.
“’0 caminho das boiadas”, de Léo Godoy Otero, é uma das obras marcantes da literatura regionalista feita em Goiás, publicada pela primeira vez em 1958, pela Livraria José Olympio Editora. Essa obra literária não perdeu, até hoje, a sua importância ( … ).
Esse escritor goiano, radicado em São Paulo, não perdeu a verve e o vasto conhecimento do falar caipira goiano (… ).

ARGUMENTO/ RESUMO
DE
O CAMINHO DAS BOIADAS
DE
LÉO GODOY OTERO
Edição da Livraria José Olympio Editora- Rio de Janeiro, 1958.
ASSUNTO: Transporte de boiada de Goiás a Barretos, para o mercado de carnes de são Paulo.
Época: década dos anos 40.
Uma boiada composta de 1.500 cabeças de gado de corte, aí vacas velhas, bois erados, como ainda até garrotes, arranca da cidade de Morrinhos, Goiás, para Barretos, São Paulo.
Oito peões liderados por um chefe, o comissário da boiada, também dito capataz, aguardam nervosos o nascer do dia, a fim de partirem: esta a primeira marcha, assim chamado cada dia de viagem.
Na noite quente, a boiada berra praticamente a noite toda. Bois brigam, pois nervosos demais no início da viagem.
De madruga, os peões rodeiam, ajuntam a boiada. Aí almoçam arroz, feijão com carne seca e farinha, mais café, comida feita pelo cozinheiro da comitiva, o qual com os equipamentos de cozinha, com seu ajudante e duas mulas, vai para o próximo pouso, lá esperando o comboio. Isto se dará por 19 dias, numa caminhada de 3 léguas/dia, isto é, 18 km, até Barretos, prazo este nunca respeitado, pois contratempos ocorrem quase a viagem toda.
No avanço da boiada, caminhos difíceis, serras íngremes, estradas estreitas, bois caindo em abismos e morrendo.
Gado perdido, sumido, morto, tais perdas debitadas na conta do comissário, pois ele ganha por cabeça ilesa, além da munição de boca que é fornecida pelo dono do gado.
O herói da história é um peão de boiadeiro chamado Moreno Ponteiro que leva tal apelido por portar o berrante e ocupar a frente, a ponta da boiada.
A caminhada do gado é lenta, reses sempre perdendo peso não só pela viagem, como pela má qualidade dos pastos de aluguel encontrados pelo caminho no fim de cada marcha. Também gado desaparece, ás vezes, não mais encontrado, também furtado, aí chamado de arribada. Gado morre também por fraqueza ou picadura de cobra ou ainda ingerindo erva venenosa geralmente no Brasil central conhecida como timbó.
Á noite nos pousos, geralmente a peonagem canta ou até joga truco. Cada pião tem para seu uso dois cavalos fornecidos pelo dono da boiada.
Na viagem surgem cidades, enquanto a boiada estaciona nas periferias, em pastos alugados e ruins por uma noite, pousos já previamente designados, conhecedor do caminho pelo comissário.
Os peões que estão de folga vão para a cidade bagunçando os bordéis, dando tiros, brigando, sendo presos, agredidos pela policia local. No outro dia o comissário tira esses bêbados da cadeia, pagando fiança exorbitante, de novo para Barretos, avançando, bois bravos, chamados brabezas, tentando se esconderem em moitas de capoeira, existentes no percurso.
No fim de cada marcha um toque diferente, convencional do berrante, avisa a peonagem da culatra, isto é, da retaguarda e dos lados para estacionar a manada, totalmente, sem afobação. Nesse fim de marcha o comissário reconta, cuidadosamente, a totalidade do gado.
Chegando próximo à travessia de um grande rio, no caso o Paranaíba, limite de Goiás com Minas Gerais, a boiada inicia estouro:
O estradão boiadeiro apertava mais a cada braça. Uma cotovelada de arranque da capoeira atingiu a estrada. A ponta da manda estacou de súbito. Um estremecido estancou os sons. O frêmito do pavor cavalgou a boiada. Chifres em chifres estalando. Caudas se erguem. Orelhas hirtas. Os sons desesperados do berrante, entrecortados como o choro cobriram o arranque da boiada. Toda a tropa ágil da talha lateral, na ânsia do cavalo de boiada, irrequieto e azuado, cortou preciso o matraqueado do estouro vacilante. O estouro não progrediu, aviso à peonagem da possibilidade de tal vir a acontecer.
Daí para frente as marchas se sucederam normalmente, até Barretos onde o gado é entregue ao frigorífico comprador. Tudo anteriormente combinado entre a empresa e o dono da boiada.
ORGANIZAÇÃO DE UMA BOIADA
Há um chefe responsável pela boiada e pelos peões, contratado pelo dono dela. É ele o gerente geral, o caixa da comitiva, patrão ali, com autoridade de disciplinar peões que queiram desobedecer ou desrespeitar a chefia.
Uma boiada de 1.500 cabeças de boi exige no mínimo 8 peões, com muda de dois cavalos para cada um, fora as duas mulas de carga sob o controle do cozinheiro e seu ajudante.
Um peão geralmente se veste ou se vestia, com calça de algodão cru, camisa de riscado, guaiaca na cintura, um ou outro armado, faca pequena e calças de couro crus com penduricalhos. Todos geralmente fumam, portanto portam canivetes e isqueiros estes chamados bingas.

Gente de rancho


Departamento Estadual de Cultura
Goiânia – 1969 – Gilberto Mendonça Teles
( … ) A melhor linha do regionalismo goiano se acentua na obra de Léo Godoy Otero ( … ).
Estreando com Gente de rancho”.1954. o autor pagou tributo inicialmente à necessidade do depoimento, trazendo para seus contos uma série de tipos humanos dos arredores de Morrinhos, acentuando sempre o desnível das classes sociais ( … ).
O autor preserva, todavia, se reserva e a sua linhagem adquire tons realmente superiores, numa sobriedade irrepreensível. Se esta foi a sua estréia, melhor ainda se expressaria em 1958, quando lançou “O caminho das boiadas” livro muito mais sólido, mais largo na compreensão literária dos assuntos regionais que aí são excelentemente desenvolvidos ( … ).
Há predominância do social, a intenção de documentar o estágio econômico característico da vida das grandes fazendas.

Obra

Léo Godoy Otero  começou a escrever ainda bem jovem, o que o faz considerar seu livro “Gente de rancho” relativamente imaturo, ainda que sob forte inspiração regionalista, por ter sido o autor originário do Centro-Oeste rebento de família de fazendeiros.
De qualquer modo, os contos de “Gente do rancho” , fugindo ao folclórico e anedótico, são enfocados como  literatura até certo modo social, por transpor o trem de  vida sertanejo, do morador da periferia da cidade interiorana.
De outra parte, em carta para o autor, quando do lançamento de “O caminho das boiadas”, 1958, Rio,  escreve Guimarães Rosa: “O caminho das boiadas” será um real e barulhento sucesso, um triunfo que a critica consagrará (…). Não estou dizendo isso por cordial amabilidade, mas sim porque creio. Há um sinal, para mim sempre certo, é que nunca me esqueço de varias passagens do seu livro que me entusiasmam de memória:  o flagrante dos ciganos, o fabuloso estouro da boiada, vivo, veraz, autentico, captado desde o ponto gerador do torvelinho inicial, em sua espantosa dinâmica (…). Prepare-se para aparecer fortemente.
Pela reedição de “O caminho das boiadas”, 1984, diz Bernardo Elis: “em 1954, Pela Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, da Prefeitura de Goiânia, aparecia um livro de contos intitulados Gente de rancho, cujo autor era um goiano natural de Morrinhos, Léo Godoy Otero (…).” “Esses contos não passaram despercebidos perante a crítica nacional”.
Mereceram atenção de gente como Guimarães Rosas e Wilson Martins que quer dizer que se tinha pela frente coisa válida.
O autor, entretanto, não alimentava prevenções de demorar na ficção e, ligando-se ao cinema (Cia. Vera Cruz), praticamente ausentou-se de Goiás, onde passara, parte da sua vida, afora o tempo de enstudo em Uberaba e São Paulo”.
“Em São Paulo (capital), 4 anos depois publicou o segundo livro, “O caminho das boiadas”, agora incluindo uma narrativa longa, de quase 150 Pgs. tão bem recebida pela crítica se não melhor, quanto ao primeiro “
Caso não me falha a memória, sempre falhante, Assis Brasil observou que Léo Godoy Otero  utilizava-se de uma narrativa apoiada na oralidade, em que o coloquial goiano era incorporado como forma expressional literária. Mostrava isso um avanço do autor de Gente de rancho, pois à exceção de Guimarães Rosa, ao tempo, poucos escritores usavam semelhante técnica, prevalecendo o sistema de duas linguagens – o coloquial nos diálogos diretos e o erudito quando era o autor o narrador ( … ).”
A prosa de Léo Godoy Otero caracteriza-se pelo atropelamento: ele escreve como quem vai tirar o pai da forca, como quem contando alguma coisa premida pela urgência, às carreiras, entremeando com adjetivos, expressões, informações sublimares que surgem tumultuadas, de modo a conferir à narração um teor polifônico ou dialógico. Com semelhante técnica o autor quase alcança aquele ideal de certa corrente literária que pretende um discurso não linear, antes de idéias concomitantes ( … ).”
É curioso como o autor pode reunir tantas e tamanhas observações da vida e do espírito do caipira goiano, tudo (em ambos os livros), repassado de um tom de jocosidade, sem maldade ( … ).”
“Guimarães Rosa, em carta ao autor, fala do “fabuloso estouro da boiada”. Ora, tentar um estouro de boiada depois das páginas indefectíveis de Euclides da Cunha e Rui Barbosa deixa de ser temeridade para ser uma necessidade ¬ de reformular emoções e impressões.”

Léo Godoy Otero

Léo Godoy Otero nasceu em Morrinhos, Goiás, a 17 de maio de 1927, filho do médico José Gumercindo Márquez Otero e de Maria Aparecida Godoy Otero. As primeiras letras e parte do curso primário fez em casa, enquanto curso ginasial no Ginásio Senador Hermenegildo de Moraes, em sua cidade, no Ginásio Diocesano de Uberaba e o segundo ciclo no Colégio de São Bento de São Paulo.
Em 1948 ingressou na Faculdade de Direito de Goiás, Goiânia terminando o curso em 1953.
Em 1954 teve seu primeiro livro, “Gente de Rancho”, contos regionais, lançado pela bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, da prefeitura de Goiânia.
Em 1954 ingressou na Cia. Cinematográfica Vera Cruz, de São Paulo, vindo a ser assistente de direção.
Após o encerramento das atividades da Vera Cruz trabalhou na redação de O Estado de S. Paulo.
Em 1958 foi editado pela livraria José Olympio Editora, do Rio de Janeiro, seu novo livro, “O caminho das boiadas”, então agraciado com o prêmio Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro, como a melhor obra de ficção regional daquele ano.
De 1965 a 1967 foi resenhista de livros do “O Jornal do Livro” de São Paulo.
Em 1984 teve reeditado o “O caminho das Boiadas”, pelo GRD Editora, de São Paulo.
Estudioso de ficção cientifica, por vinte anos pesquisou o tema, vindo a lançar, em 1987, o ensaio “Introdução a uma historia da ficção cientifica”, via Lua Nova Editora, também de São Paulo.
Foi por duas vezes diretor da União Brasileira de Escritores de S. Paulo, 1989 e 1990.
Sua última obra literária, “O retrato em sépia”, foi publicada pela Ottoni Editora, de Itu, SP, em 2003, ali inseridos dois contos urbanos e um regional.
Participou de diversos congressos de escritores e de cinema apresentando teses, debatendo, sugerindo medidas de defesa do cinema nacional.
Léo vive em Itu município de São Paulo com sua esposa Marilia de Mendonça Bastos Godoy Otero com quem teve três filhos Virginia, Léo e Patricia. Arthur, Caio, Pedro, Luiz , Luiza e Léo são seus queridos netos!